Sou Sandra Cristina dos Santos Rocha, Professora Titular aposentada da FEQ, a Profa. Sandra. Venho aqui escrever um pouquinho sobre algumas experiências de quase 40 anos de vivência na nossa Faculdade.
Ingressei na Unicamp em 1975, aluna da 1ª. turma da EQ, quando ainda nem tínhamos o currículo do curso estabelecido para os 5 anos. Apenas as disciplinas do Básico constavam do catálogo. Não tínhamos prédio, nem salas de aula e nem laboratórios próprios. Nosso curso utilizava espaços compartilhados com a Elétrica e a Mecânica. Éramos o DEQ – Departamento de Engenharia Química – da FEC – Faculdade de Engenharia de Campinas. Ao longo da nossa graduação, vimos o Corpo Docente ser formado e aqui expresso meus mais sinceros agradecimentos aos professores que, com muita disposição, discussão e conhecimento, iniciaram essa jornada que hoje é a FEQ. E à nossa querida turma, a EQ75, que conseguiu com união e alegria, através de um abaixo-assinado levado ao Reitor Professor Zeferino Vaz, a construção do Pavilhão, que à época chamávamos de Barracão. Os primeiros laboratórios de graduação foram instalados no Barracão, que hoje abriga renomados laboratórios de pesquisa. Fui também da 1ª. turma do Mestrado, iniciado em 1980, ainda com infraestrutura incipiente e que foi se estabelecendo ao longo dos anos. Fiz Doutorado na Escola Politécnica da USP, e me especializei em pesquisa na área de Sistemas Particulados. Fui Diretora Associada da Faculdade no período de 1994-1998. Me aposentei como Professora Titular da FEQ.
Era o início dos anos 80 e eu já estava atuando como docente do DEQ. O DEQ estava em crescimento e formação, e uma comissão interna de professores definia as diversas áreas da Engenharia Química para o desenvolvimento e qualificação do Departamento. E essas áreas eram as indicadas para os recém-contratados professores, oriundos das primeiras turmas da EQ (dos quais faço parte), desenvolverem seus trabalhos de mestrado e doutorado. Dessa forma, criando conhecimento nas diversas áreas da Engenharia Química, e também tomando o cuidado de evitar endogenia. Não me lembro do nome oficial dessa comissão, porém, a apelidamos de “Comissão do Bom Caminho” (esse jamais esqueci…). Na época não gostamos muito, mas hoje vejo que foi muito importante diversificar a qualificação dos professores e em diferentes Universidades do Brasil e do exterior.
Com a qualificação do Corpo Docente e a viabilização de projetos de pesquisa, fomos vivenciando anos de crescimento do Departamento. Programas federais de apoio à pesquisa, como PADCT (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico), FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e CNPq; estaduais, como FAPESP; e convênios com indústrias, assim como o apoio da CAPES à pós-graduação, foram fundamentais para o avanço das pesquisas e a consolidação do Programa de Mestrado. Poucos devem saber que já no final da década de 70, com a participação do DEQ e do IFGW (Instituto de Física), foi desenvolvido um veículo movido a hidrogênio que circulava pela Unicamp. Era o Projeto Hidrogênio, um dos grandes projetos da época. Paralelamente eram desenvolvidas pesquisas em alcoolquímica, gaseificação de carvão, entre outros. Projetos com foco em energias alternativas, devido à crise mundial do petróleo nos anos 70. Veículos movidos a hidrogênio voltaram a ser de interesse mundial, agora devido a questões ambientais. O que demonstra que estivemos desde o princípio na vanguarda da pesquisa no Brasil.
A partir de então, acompanhei e participei com muito entusiasmo e trabalho, dos desafios que se apresentaram para a consolidação da excelência da nossa Faculdade. Participei do processo de criação do programa de Doutorado, da transformação do Departamento em Faculdade, a FEQ, da criação do curso noturno de graduação, de diversos estudos e alterações curriculares, da estruturação da nossa pós-graduação. Sou testemunha dos anos de dedicação e esforço conjunto dos professores e funcionários.
Após o doutorado, implantei e coordenei o Laboratório de Fluidodinâmica e Secagem, LFS. Com o desenvolvimento de projetos em Sistemas Particulados, principalmente nas áreas de secagem e recobrimento de partículas, tive a oportunidade de orientar alunos de iniciação científica (36),
mestrado (20), doutorado (23) e pós-doutorado (4). Sempre achei de extrema importância ter no laboratório alunos das diversas regiões do país, do Norte ao Sul, muitos deles já professores de Universidades, para ao mesmo tempo, promover as trocas culturais entre eles e também o desenvolvimento científico/tecnológico em nível nacional. Avalio que deu muito certo!
Interações com renomados pesquisadores nacionais e internacionais proporcionaram meu crescimento pessoal e profissional. Destaco projetos conjuntos com os Professores Vijaya Raghavan e Arun Mujumdar (McGill University, Canadá) e o Professor Norman Epstein (in memoriam) (University of British Columbia, Canadá), além de produtivas interações com professores da área de secagem da Polônia, especialmente Prof. Czeslaw Strumillo (in memoriam), do Centro de Secagem da UFSCar, Prof. José Teixeira Freire, entre tantos outros não menos importantes para minha formação e carreira. Visitas aos centros de pesquisa da Polônia e do Canadá, além da participação em congressos em todo mundo, e em bancas de avaliação em todo Brasil (sou da época em que tudo era presencial) me trouxeram uma grande e gratificante bagagem, que sempre tentei transferir para os alunos de graduação e pós-graduação. Essa transferência de conhecimento é essencial para a boa formação dos alunos e é o que diferencia as Universidades em que coabitam ensino, pesquisa e extensão.
Na graduação e pós-graduação ensinei Fenômenos de Transporte, Operações Unitárias, disciplinas de Laboratórios, Sistemas Particulados e algumas eletivas. Quando uma turma se formava, deixava um vazio; porém com a gratificação do dever cumprido e de colocar no mercado de trabalho profissionais qualificados para contribuir, de forma competente e ética, para o desenvolvimento e bem estar da sociedade. O vazio deixado por uma turma era preenchido com a chegada da próxima, um ciclo virtuoso. Sempre gostei demais da sala de aula. Meu local preferido na FEQ!
Posso dizer que foram anos que trouxeram alegrias, satisfações, reconhecimentos e também tristezas, como as perdas precoces da colega de Departamento e amiga de coração, Profa. Lídia Maria Maegava, e do Prof. Rahoma Mohamed. Outros colegas de trabalho da FEQ também se foram e deixaram saudade e um grande legado.
Teria outras histórias para contar, mas ficaria demasiado longo. Quis trazer aqui um pouquinho do que foi o início da FEQ, há 50 anos e da minha trajetória.
Fomos desbravadores e hoje vemos, com muito orgulho, a posição que a FEQ ocupa nos cenários nacional e internacional em ensino, pesquisa e inovação. Com seus Mestres muito bem qualificados, com suas instalações que abrigam salas de aulas, laboratórios de ensino, de prestação de serviços e de pesquisa, com equipamentos de última geração, que contribuem para novas descobertas e avanços na ciência e tecnologia. Sempre com muito trabalho e dedicação dos professores, funcionários e alunos de graduação e pós-graduação, entrelaçando ensino e pesquisa, chegamos à excelência. E espero que através das escolhas certas, continuemos a trilhar o caminho da meritocracia.
Gostaria de agradecer a todos que fizeram parte do meu caminho na FEQ, em especial ao Professor Cesar Costapinto Santana, meu orientador de iniciação científica e de mestrado, que me incentivou e despertou em mim o interesse e gosto pela pesquisa.
Parabenizo a FEQ e a todos que contribuíram para chegarmos a esses 50 anos!!