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Prof. Dr. Cesar Costapinto Santana

Professor Aposentado

REMINISCÊNCIAS E COMENTÁRIOS ALEATÓRIOS SOBRE

A ENGENHARIA QUÍMICA DA UNICAMP

 

PERÍODO DE 1975 A 2011

 Cesar Costapinto Santana

Professor Titular

 

A chegada à UNICAMP

 O meu primeiro contato com a Unicamp foi realizado no mês de outubro de 1975 através de uma visita ao Campus Universitário situado em Barão Geraldo. A visita ocorreu atendendo a convite formulado pelo Prof. Saul Gonçalves d’Ávila, que estava  em processo de contratação pela Unicamp e foi encarregado de recrutar pessoa docente visando a formação de um núcleo de profissionais para estabelecer as atividades em Engenharia Química  nesta Universidade. Estava acompanhado dos colegas José Cláudio Moura e Alberto Luís de Andrade, que trabalhavam junto comigo na Universidade Estadual de Maringá, em Maringá, Paraná.  Encontrei no antigo prédio da  Faculdade de Engenharia             de Campinas  (FEC) os professores Antônio Carvalho de Sales Luís e Wagner dos Santos Oliveira que tinham chegado recentemente de Portugal, além dos professores Saul Gonçalves d’Ávila. O Prof. Saul estava se instalando em Campinas vindo da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), onde era Professor Adjunto. Ocorreram as conversas iniciais sobre as atividades que propiciariam a  criação do Curso de Engenharia Química e as atividades de pesquisa dentro do Núcleo de Hidrogênio da Unicamp. O processo de contratação ocorreu rapidamente, e em 15 de dezembro de 1975 retornamos à Unicamp para a assinatura do contrato, que teve como data oficial de início 01/12/1975.

 

Os três  colegas  recém chegados de Maringá, José Cláudio, eu e o Alberto, possuíam o titulo de Mestres em Engenharia Química pela COPPE/UFRJ. Havíamos concluído o Mestrado em 1970, 1971 e 1972, respectivamente. Desde fevereiro de 1972 um núcleo de recém-mestres da COPPE foi contratado pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) para iniciar as atividades pioneiras de um Curso de Engenharia Química naquela cidade, que estava completando naquele ano de 1972 o seu Jubileu de Prata.  Faziam parte do núcleo inicial na UEM além do José Cláudio e eu, os colegas Fred Wolf e Renato Sprung. Como experiência adicional, Alberto, José Cláudio e eu estávamos inscritos no Doutorado da COPPE, onde havíamos cursado as disciplinas e já tendo sido aprovados em Exame de Qualificação (que possuía naquela época elevada exigência acadêmica)  e iniciado a elaboração das teses de doutorado. A experiência adquirida na montagem do Curso de Engenharia Química na UEM e na docência de cerca de cinco anos naquela Universidade, onde introduzimos algumas das inovações para a época em currículo da  graduação em Engenharia Química  como disciplinas de Balanços de Matéria e Energia, Termodinâmica Cinética Química e Reatores e Controle de Processos certamente  nos facilitou encarar novos desafios na Unicamp.

 

O Curso de Engenharia Química da Unicamp no seu início

 

A instalação inicial do Curso de Engenharia Química em Campinas ocorreu em janeiro de 1976, quando as atividades profissionais desse grupo precursor se iniciaram. Já havia chegado também à Unicamp o Prof. Mário de Jesus Mendes havia concluído recentemente o seu doutorado na Alemanha e estava também sendo contratado pela Unicamp. Dispúnhamos de três salas emprestadas pelo Departamento de Engenharia Mecânica, onde se alojaram os sete membros do grupo que se iria constituir como Departamento de Engenharia Química (DEQ) da FEC. Não existia nenhum recurso inicial para a formação do DEQ, que dependia unicamente do entusiasmo dos docentes contratados para a implantação do Curso. Nem existia espaço físico para laboratórios.  Livros de Engenharia Química apenas os nossos próprios. Na biblioteca da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) e na do Instituto de Química existiam livros e periódicos de áreas afins. Como só seria oferecida uma disciplina no segundo semestre de 1976, a principal atividade em nível de ensino consistia no planejamento do currículo do Curso de Graduação em Engenharia Química. Em paralelo tínhamos as atividades de pesquisa associadas ao Núcleo do Hidrogênio, em associação entre a FEQ e o Instituto de Física (IF).  Eu, Alberto e José Cláudio tínhamos também como tarefa adicional  elaboração das teses de doutorado, que estavam no seu início. A FEC consistia dos Departamentos de Engenharia Elétrica e de Engenharia Mecânica, que já estavam implantados há pelo menos cinco anos. O Departamento de Engenharia Química em criação era assim o membro mais novo da FEC, sem dispor de nenhum recurso físico ou financeiro. O Núcleo de Hidrogênio era coordenado pelo professor João Alberto Meyer do IF, tendo como coordenadores técnicos os professores Marcus Zwanziger e Saul Gonçalves d’Ávila. A participação no Projeto Hidrogênio permitia uma complementação salarial da ordem de 20% sobre o salário de Professor Assistente. Iniciou-se  no primeiro semestre de 1976 a construção física de um pequeno laboratório de pesquisas em hidrogênio junto ao prédio da FEQ.

 

As discussões sobre o currículo de Engenharia Química a ser implantado foram bastante intensas e acaloradas naquele ano de 1976. Existiam correntes de opinião diferentes dentro do grupo, devido principalmente a formações e personalidades diferenciadas.  Após chegarmos a um consenso, ao final do ano de 1976 já estava definido o Currículo do Curso com a distribuição semestral de disciplinas e no Catálogo de Graduação da Unicamp em 1977 já constava a descrição do perfil do Engenheiro Químico a ser formado pela Unicamp. Foram elaboradas listas de livros e periódicos a serem adquiridos pela Unicamp e propostos os primeiros experimentos de laboratório. Foi cedido um espaço pelo Departamento de Engenharia Mecânica para a montagem dos primeiros experimentos: Experimento do Número de Reynolds e Escoamento em Leitos Fixos e Fluidizados. Em 1976 os alunos destinados a compor a primeira turma  Engenharia Química ainda estavam cursando disciplinas do curso básico e no

segundo semestre desse ano tiveram o primeiro contato com o novo Departamento de Engenharia Química (DEQ) através de uma disciplina de Físico Química Aplicada ministrada pelo Prof. Sales Luís. Durante o ano de 1977 foram implantadas as primeiras disciplinas já pertencentes ao DEQ tais como as de Termodinâmica, Introdução à Engenharia Química,  Fenômenos de Transporte, Cinética Química e Operações Unitárias.  O DEQ era composto no início de 1977 por sete professores.  Vieram a se juntar ao grupo os professores Edison Bittencourt, André  Gonçalves Antunha, Maria Helena Andrade Santana e Zsolt Makray. Em 1978 foram contratados o João Alexandre Pereira, Manfred Fehr e Aydin Konuk. A primeira turma de Engenheiros Químicos se formou em 1979 e em 1980 alguns graduandos foram contratados pela Unicamp como Auxiliares de Ensino (designados como M.S.-1), se integrando  nesse ano de 1980 também como alunos de Mestrado no novo curso de pós-graduação que estava em organização em 1979 para se iniciar no próximo ano.

 

O embrião da Pós-graduação

 

O Projeto Hidrogênio possibilitou a instalação de núcleos de pesquisa em temas afins ao projeto e a orientação de Iniciações Científicas. No segundo semestre  de 1979 o DEQ resolveu estabelecer um Mestrado em Engenharia Química. Com um Corpo Docente constituído inicialmente de oito doutores já ocorria uma massa crítica consistente para uma proposição de  Mestrado em Engenharia em Engenharia Química. Existiam no país apenas quatro cursos de pós-graduação em Engenharia Química: COPPE/UFRJ e USP, com Mestrado e Doutorado além de  Escola de Química/UFRJ e UFPB em Campina Grande  com Mestrado.    A Unicamp veio então se juntar a esse esforço de formação de recursos humanos de alto nível na área. O Mestrado na Unicamp se iniciou em março de 1980 com um grupo de cerca de 12 alunos. A primeira dissertação de Mestrado na Engenharia Química da Unicamp foi defendida em fevereiro de 1982, com o mestrando Gerson Luiz Vieira Coelho sob a minha orientação. O título da dissertação foi: Reologia e Escoamento Turbulento de Suspensões de Minério de Ferro. Participaram da Banca Examinadora o Professor Giulio Massarani da COPPE/UFRJ e o Professor João Alexandre da Rocha Pereira da UNICAMP, além do orientador, Cesar Costapinto Santana. Em 1983 se integrou ao DEQ o Prof. Artur Zaghini Francesconi, que obteve o seu título de Doutor na Alemanha.

O desenvolvimento do DEQ a partir da criação do Mestrado

Com a contratação de  alguns Mestrandos como Auxiliares de Ensino no nível MS-1, o DEQ possui já em 1983 um total de 26 Professores. O Mestrado em 182 possuía cerca de 30 alunos dos quais oito  alunos estavam em fase final de elaboração da dissertação. O DEQ já ministrava nessa ocasião 33 disciplinas de graduação para cerca de 350 alunos. O corpo de docentes do DEQ em 1982 contava com oito doutores, três professores com mestrado e doze Engenheiros, sendo três professores em RTC, que trabalhavam também em indústrias da região.  De 1982 a 1989 ocorreu uma época de esforço considerável tanto na parte de ensino como de montagens de laboratórios de pesquisa para abrigar os trabalhos.  Diversos projetos de grande porte foram desenvolvidos, especialmente na área de Energia, como o de Leitos Fluidizados com Recirculação  (FIPEC/Banco do Brasil), que se iniciou em 1985.

 

A Faculdade de Engenharia de Campinas (FEC) e o seu desdobramento 

Em 1985 ocorreram transformações na FEC, com a Criação da Faculdade de Engenharia Elétrica, permanecendo abrigados com o nome da FEC os Departamentos de Engenharia Mecânica e de Engenharia Química. Para preparar o desdobramento desses Departamentos em Faculdades foram criadas Coordenações de Engenharia Mecânica e Engenharia Química que contavam no seu organograma com sub-Departamentos, que depois viriam a se constituir futuros Departamentos. Em 1986 fui designado para  a Diretoria Associada da FEC, quando assumiu a diretoria da FEC o Prof. Antonio Celso Fonseca de Arruda. A Diretoria da FEC estava incumbida de organizar a transição para a criação das duas novas Faculdades de Engenharia Química e Engenharia Mecânica, que ocorreu em 1990.

Foram criados três Departamentos na FEQ: Sistemas Químicos, Processos Químicos e Tecnologia Química e Materiais.  Houve posteriormente o desdobramento desse último em dois Departamentos: Termofluidodinâmica (DTF) e Materiais.

O primeiro Concurso de Professor Titular para professores pertencentes à Área de Engenharia Química ocorreu em 1987, sendo  Cesar Costapinto Santana e João Alexandre da Rocha Pereira os dois primeiros Professores Titulares aprovados por concurso.

 

A criação e implantação do Doutorado em Engenharia Química

Em 1989 foi aprovado pela Capes o Curso de Doutorado na UNICAMP, ficando assim o Programa de Pós-Graduação constituído de Mestrado e Doutorado. A criação do Doutorado teve uma importância significativa para a elevação do nível das publicações e para o estabelecimento de laboratórios de alto nível em pesquisas.

 

Alguns aspectos do desenvolvimento da Pós-graduação na FEQ 

Em abril de 1995 o Programa de Pós-Graduação da FEQ já contava com um número expressivo de alunos, cerca de 300, nos cursos de Mestrado e Doutorado e um corpo docente de 42 professores. Os cortes de bolsas e recursos do CNPq e CAPES já no ano de 1995, foi a primeira grande dificuldade. As bolsas, que  eram relativamente  suficientes para o Programa tornaram-se escassas até mesmo para os alunos já integrados ao programa. Com a abertura da FAPESP para bolsas de estudos, as necessidades do programa foram aos poucos se adequando à nova realidade.

A maior dificuldade na implantação da pós-graduação foi a administração dos conflitos internos. Os docentes, divididos politicamente em dois grandes grupos divergiam nas suas filosofias e a competitividade não saudável se fazia presente no dia a dia da Pós-Graduação. A necessidade de uma equalização dos benefícios em termos de bolsas e de recursos além da valorização de todas as áreas de concentração e de todos os seus docentes,seria um grande passo para que o programa de pós-graduação tivesse uma unidade e pudesse ser apresentado e divulgado fora da UNICAMP como um Programa   único, composto de áreas de concentração. Essa luta representaria também uma semente para a construção de uma FEQ na qual os seus docentes tivessem as mesmas oportunidades.  Os resultados nesse sentido foram  gratificantes, verificando-se  a aproximação da maioria  dos docentes das várias Áreas no trabalho conjunto com a Coordenação de Pós-Graduação.  Finalmente, em 1997 foi editado o primeiro “folder” e o primeiro catálogo do Programa de Pós-Graduação da FEQ como um todo. Em 1995 o Programa de Pós-Graduação da FEQ  recebeu da Capes o conceito “Excelente”, correspondente ao nível 6, após ter recebido sucessivamente  três conceitos nível A para os níveis Mestrado e Doutorado. Em 2007 o Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química ad Unicamp atingiu a nota máxima 7, atribuída pela CAPES aos programas de qualidade excepcional.

 

A criação do Departamento de Processos Biotecnológicos

 Em 1996, com a concessão da Reitoria de 6 novas vagas para contratação de docentes e o retorno do exterior de docentes com especialização em bioengenharia, iniciou-se na FEQ o processo de criação do Departamento de Processos Biotecnológicos, DPB.  A congregação da FEQ estabeleceu   Comissão para a criação do Departamento de Processos Biotecnológicos (DPB), da qual faziam parte os profs. Maria Helena A. Santana, Cesar Costapinto Santana e Everson Alves Miranda.  Em 1997 solicitei a minha transferência do DTF para ajudar a implantar o novo DPB. A atuação do departamento nas várias linhas visando o Desenvolvimento de Processos Biotecnológicos  foi planejada por essa comissão para que  docentes a serem contratados contemplassem as linhas carentes. Finalmente em outubro de 1997 foi aprovada pelo Conselho Universitário a criação do DPB, após 01 ano de funcionamento com todos os deveres e responsabilidades de um Departamento. O novo Departamento foi altamente prejudicado pela Diretoria da FEQ que atuava em 1997. Poderia ter recebido pelo menos mais um docente para a atuação nessa área, reconhecidamente de importância fundamental para a Engenharia Química nos dias atuais. Mesmo contando com apenas cinco docentes, o DPB se desenvolveu brilhantemente e é  desde ao sua criação até o momento o Departamento de maior produtividade por docente da FEQ. Possui todos os seus cinco  docentes com Bolsa de produtividade Científica do CNPq e vem atuando de forma primorosa no desenvolvimento do ensino de graduação, de pós-graduação, na orientação de Teses e Dissertações e na produtividade científica dos seus membros.

Participa como a quinta área de Concentração no Programa de Pós Graduação da FEQ, que no tal de alunos possui cerca 400 alunos de Mestrado e Doutorado, sendo cerca de 40 alunos pertencentes à área de Processos Biotecnológicos. Em março de 2000 o Programa de Pós Graduação foi visitado por uma Comissão Internacional da Capes, que emitiu Relatório atestando a inserção internacional do mesmo e destacando a área de processos Biotecnológicos como a mais forte e bem caracterizada área de Concentração da FEQ.

 

Alguns comentários finais

 Após os 36 anos de atividades na Unicamp com 70 alunos de Mestrado e Doutorado com teses defendidas na Unicamp, gostaria de deixar registrado que considero altamente gratificante a minha participação no processo de criação, implantação e desenvolvimento atual desse importante  núcleo de atuação em Engenharia Química no país. A massa crítica atual de cerca de 50 docentes, 500 alunos de graduação e 400 alunos de pós-graduação representa um forte grupo de ensino e pesquisa nessa área, mesmo considerando-se o âmbito mundial dos campos de conhecimentos em Engenharia Química. A presença da FEQ em suas diversas atividades representa já uma realização considerável, possuindo ainda um potencial transformador de alto calibre para a Engenharia Química do Brasil.

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